sexta-feira, 10 de agosto de 2012

RASGAI O CORAÇÃO, E NÃO AS VESTES


Parece estranho este título “rasgar o coração, e não as vestes” porque o ato de rasgar “as vestes” é um costume do Antigo Testamento, e não nosso. Esta prática representava o desespero diante de algumas situações. Por exemplo, quando os pais perdiam um filho era comum rasgar as vestes em sinal de representar a desgraça que estavam vivendo. Hoje, nós não rasgamos as vestes, mas, em alguns velórios e funerais os parentes enlutados choram ao ponto de gritar de desespero diante da morte de um ente querido.

Com o passar dos anos, esta prática de rasgar as vestes, no Antigo Testamento, tornou-se um ritual que demonstrava piedade diante do povo. Aquele que rasgasse suas roupas diante de uma situação desesperadora se apresentava como alguém sensível a mão poderosa do Senhor e a Sua vontade. Talvez porque o rasgar as vestes estava acompanhado de vestir-se de “pano de saco”, para demonstrar uma atitude de humilhação, e do jejum. Jacó quando soube da provável morte de José relatada pelos seus outros filhos, rasgou suas vestes (Gn 37.34).

No período de Neemias, o povo para demonstrar sua humilhação diante de Deus, a fim de voltar a firmar uma aliança de obediência ao Senhor, tomara a seguinte atitude: “No dia vinte e quatro deste mês, se ajuntaram os filhos de Israel com jejum e pano de saco e traziam terra sobre si” (Ne 9.1). Observa-se que o ato de “rasgar as vestes” estava implícito no “vestir o pano de saco”, e que o jejum acompanhava esta tradição referente ao lamento e à humilhação.

No entanto, esta bela tradição tomou um rumo estranho, como relata o profeta Joel: “Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal” (Jl 2.13).

O perigo de uma tradição, ou um símbolo, é perder seu sentido e ser esvaziada do significado que carrega. No momento em que “rasgar as vestes” não mais representava a ação de piedade diante das adversidades e a dependência do Senhor, mas, ao invés disso, traduzia a posição de prestígio diante de um grupo social religioso, a tradição perdia sua relevância para o povo de Deus.

Isso aconteceu com o Israel exilado em Susã, no período de Ester: “Em todas as províncias aonde chegava a palavra do rei e a sua lei, havia entre os judeus grande luto, com jejum, e choro, e lamentação; e muitos se deitavam em pano de saco e em cinza” (Et 4.3). Este livro é conhecido por não ter o nome de Deus e nem fazer menção ao Senhor. Mesmo que tenham jejuado, chorado e lamentado, entendemos que estes judeus eram como muitos são hoje: cheios de tradição religiosa, mas sem o Senhor. A ausência do nome de Deus nesta obra literariamente representa a ausência de Deus na vida deste povo.

Hoje, também, possuímos tradições religiosas (culto de oração, EBD, etc), que são boas! Porém, não devemos praticá-las somente para ter status de piedosos cristãos, quando nem sequer refletimos sobre a Bíblia diariamente em nossos lares, ou sequer temos uma prática de oração. Devemos “rasgar o coração”, como pregou Joel, isto é, praticar as boas tradições religiosas para a glória de Deus, em serviço ao Senhor, e não pensando em nós mesmos. Jesus, quando pregou na Terra, ensinou o mesmo, só que da seguinte forma: “Não sejais hipócrita!”.

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