terça-feira, 10 de novembro de 2009

"A Cabana"

Certa vez, preguei o evangelho para uma senhora, mãe de uma irmã da nossa igreja. Era uma daquelas “mãezonas”, que ajuda a todos, e que cuidou tão bem dos seus filhos que os estragou. Foi uma boa conversa. Falamos sobre o pecado, sobre a necessidade do arrependimento, da salvação pela fé somente e não por meio de obras, e pelo sacrifício substitutivo do Senhor Jesus Cristo pelos pecadores. Lemos a Bíblia sobre estes tópicos, mas esta gentil senhora não creu na Palavra de Deus.

Em outra oportunidade, ela conversou conosco sobre o famoso best-seller “O código Da Vinci”. Estava encantada com o livro. Creu em tudo o que Dan Brown escreveu. Não titubeou em acreditar, nem procurou informações sobre a obra de ficção, simplesmente creu, com a fé que deveria ter crido na Bíblia; e passou a ver o Senhor Jesus Cristo como um homem profano, que teve seus relacionamentos escusos, e cuja fé em torno dele foi mais um fenômeno religioso-social que aplacou a Judéia e o mundo romano e ocidental.

O erro desta mulher foi ler uma literatura ficcional como se fosse um livro que relata fatos históricos. Este mesmo engano no ato de ler está assolando nosso país com relação à obra “A cabana”. Embora, no final seja apresentado quase que como um fato, não fica claro o que realmente aconteceu a Mack. Este relato torna-se então muito subjetivo para ser crido como real. Porém, é possível aplicar o funil do cristianismo neste livro: “julgai todas as coisas, retende o que é bom” (1 Ts 5.21).

Realmente, a descrição da Trindade é o que mais tem chocado os críticos, tradicionais e não, de “A cabana”. Deus-Pai é descrito como uma mulher negra, cozinheira, que gosta de funk. O Espírito Santo é chamado de Sarayhu, que o leva a figura de uma mulher oriental, e o Senhor Jesus Cristo é um judeu, irreverente, que brinca com seu nariz. É difícil para um cristão, por mais aberto que seja em sua doutrina, enxergar a Trindade desta forma.

Somente a Bíblia expressa perfeitamente o que vem a ser a Trindade. Os livros de teologia buscam explicar, ou no mínimo, sistematizar este ensino. Porém, não são inspirados e, vez por outra, acabam incorrendo em erros, ou deixando de explicar certas conexões. De qualquer forma, sempre que se vai tratar da Trindade sem a precisão bíblica, erros e críticas virão. Talvez o autor fez assim para obter críticas, atenção e vendas!

Quando, então, uma obra de ficção busca retratar a Trindade, através de moldes pós-modernos, o contra-ataque a ela torna-se pesado. A revelação de Deus, inequivocamente, possui motivos para retratar Deus na forma masculina. Já havia gênero no hebraico, e era tão forte este conceito de gênero que até os numerais, e não somente alguns, possuíam o masculino e o feminino, na sua forma absoluta e construta. Se a Palavra de Deus diz que Deus é o Pai, é porque ELE não é a mãe! Parece engraçado, mas isso é óbvio para os que crêem na inspiração das Escrituras. Não é machismo. Afinal, somente existem dois sexos. Ou um ou o outro será o líder na família. Tem que haver um líder um Senhor.

Deus é espírito, não tem sexo ou gênero. Porém, a nossa mente finita tem. Por isso, para compreendermos o caráter do SENHOR, ele teve que se revelar de forma adequada à nossa compreensão humana de soberania e poder, na figura do patriarca. Por isso, Deus jamais deve ser retratado de outra forma.

Rasguemos então “A cabana”! Queimemos este livro condenável!

Óbvio que não! Esta é uma obra de ficção. E quanto mais atenção for dada a uma obra de ficção, mais ela vai ganhar peso de doutrina. Além disso, existem sim aspectos positivos nesta história.

Creio que o motivo de William Young ao retratar a Trindade desta forma foi fugir dos estereótipos criados, como também tornar Deus mais próximo do povo pós-moderno. Porém, o preço foi muito caro.

A intenção do autor, penso eu, foi a de fazer o leitor refletir no perdão e arrependimento dos seus pecados, para a obtenção de um bom relacionamento com Deus. Isto é legal, e é bíblico. Este é o aspecto positivo que devemos reter desta obra.

Sei que as críticas a “A cabana” são ferrenhas. E, vale ressaltar que não estou defendendo-a. Concordo com a abordagem crítica que censura o caráter universalista da obra, escrita por James B. Deyoung, no site da Chamada. No entanto, vejo esta obra como um termômetro para saber se nós cristãos estamos sabendo reter o que é bem neste mundo. Afinal de contas, não podemos começar a queimar todos os livros que discordam de nós. Pelo contrário, num mundo de extrema tolerância, devemos, como cristãos, lê-los para compreender sua forma de pensar incrédula, a fim de chegarmos a estes perdidos com o evangelho do Senhor Jesus Cristo.

Cada vez mais os cristãos devem estar no mundo, treinados para influenciar a sociedade caída com a revelação de Deus, para a sua própria glória.

E então, deve-se ler “A cabana”? Eu como pastor tive que ler para explicá-la aos jovens e adultos que estão lendo. Agora temos que ler para mostrar que a Trindade como retratada no livro é ficção, e que o caráter universalista e reprovável. Mas que o arrependimento, o perdão, e o relacionamento com Deus devem ser buscados. Mas...

Mas quem sou eu para tratar destes questionamentos? Sou só um leitor!

Um comentário:

  1. Cada obra e pensamento deve ser analisado à luz da Palavra de Deus. Como o apóstolo Paulo nos ensinou devemos levar todo pensamento cativo à Jesus Cristo. Há outra análise da obra no blog
    http://cadernoteologico.wordpress.com

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