Domingo
passado, na igreja, meditamos sobre o livro de Eclesiastes, mas, muito não pode
ser dito, em virtude da limitação humana chamada tempo. No entanto, reflexões
posteriores me levaram a pensar na dinâmica da compreensão da vida a partir de
Deus. Percebi, então, que para vislumbrarmos o Senhor como o motivo da nossa
existência é necessário pensar de modo pessimista sobre a vida.
Schopenhauer
foi conhecido como um filósofo pessimista, pois, observava a existência por uma
ótica sombria, como se observa nestas suas palavras: “Este mundo é um inferno para os animais e nós, humanos, seus demônios”. Porém, em alguns momentos ele acerta, quando parece
parafrasear o Pregador de Eclesiastes: “Quanto
mais claro é o conhecimento do homem – quanto mais inteligente ele é – mais sofrimento ele tem; o homem
que é dotado de gênio sofre mais do que todos”.
De modo
semelhante Salomão colocou: “Apliquei o coração a conhecer a sabedoria e a saber o que é loucura e o
que é estultícia; e vim a saber que também isto é correr atrás do vento. Porque
na muita sabedoria há muito enfado; e quem aumenta ciência aumenta tristeza”
(Ec 1.17-18). Sabedoria e inteligência podem ser entendidas como a mesma coisa,
e tê-las traz enfado e sofrimento. Por quê? Afinal não é bom ter sabedoria e
ser inteligente nesta vida?
Claro que é, porém, quando se tem em parcialidade este
conhecimento, o véu da ignorância se rompe, e enxergamos como o mundo é desde
que o pecado fez parte dele. Não se engane com as belezas aparentes, olhe o que
Paulo, o apóstolo, revela em Romanos: “Porque sabemos que toda a criação, a um
só tempo, geme e suporta angústias até agora” (Rm 8.22). Ou seja, apesar das
belezas da criação, algo está muito errado.
Não quero com isso dizer que Schopenhauer está correto em
sua filosofia, que em muito influenciou Machado de Assis, mas, quero tomá-lo
como ponte para compreendermos que o pessimismo nos ajuda a glorificar a Deus
em nossas vidas. Visto que o nosso pecado destruiu todas as instituições
humanas desde sua fundação, existimos no universo corrompido, no mundo bizarro.
Somente o Senhor é a nossa âncora para o mundo apropriado para nós. Ele é o
referencial, o norte, a noção que deve nos guiar. No momento em que perdemos de
vista este parâmetro, Deus, voltamos a nos saciar e satisfazer com a corrupção
da realidade caída.
O pessimismo, que pode muito bem ser aqui percebido como
realismo, ressalta a beleza e o vigor da vida com Deus, assim como o manto
negro do universo faz com as estrelas no espaço. Inevitavelmente, seguindo este
raciocínio, percebemos que todos precisamos ter um pouco desse pessimismo para
com esta vida, de modo a nos apegarmos mais ao Senhor. Não tem como fugir dessa
reflexão.
Sei que este pensamento é por demais pesado,
principalmente para aqueles que levam a sério a revelação de Deus. Mas, como
vivemos em duas realidades paralelas, a de santos e pecadores ao mesmo tempo, quero
deixar dois versículos que nos confortam o coração, acerca das alegrias desta
vida:
“Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze
o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois,
separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?” (Ec 2.24-25)
“Sei que nada há melhor para o homem
do que regozijar-se e levar vida regalada; e também que é dom de Deus que possa
o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho”. (Ec
3.12-13)
Nenhum comentário:
Postar um comentário