PROCURA-SE UM PROFETA

No recente filme, estrelado pela afamada atriz holywoodiana Angelina Jolie, intitulado “A Troca”, uma figura saltou a tela como um personagem que fez a diferença, embora fosse secundário à trama. A história verídica conta a vida de uma mulher, Christine Collin, que teve seu filho, Walter Collin, raptado em uma manhã de sábado, quando estava no trabalho. Ela, porém, nunca desistiu de procurar seu filho.

O fato ocorreu em Los Angeles, Califórnia, em março de 1928, quando a polícia era extremamente corrupta e precisava mostrar resultados à população. Cinco meses depois de exaustivas buscas, uma criança desaparecida foi apresentada a sra. Collin como sendo seu filho. Ela começou a desconfiar que a criança não era o Walter. Ao buscar a polícia, que usara este estratagema para solucionar o problema da criança raptada, ela foi considerada louca e enviada ao manicômio da cidade pelas próprias autoridades que deveriam ajudá-la.

No hospício, a sra. Collin viveu seus piores momentos. Em um ambiente decrépito, rodeada por mulheres insanas, e nas mãos de um médico corrupto, que mesmo sabendo de sua sanidade a declarava louca, teve uma luz em seu sofrimento. No instante em que a sra. Collin sofreria uma aplicação de choques elétricos chega o reverendo Briegleb, interpretado por John Malkovich, que a liberta daquela angústia.

Embora, neste ensaio até aqui se tenha tratado da sra. Collin e de seu filho raptado, o personagem que fez a diferença é o reverendo Briegleb. Ele possuía um programa de rádio que denunciava a corrupção política e legal da cidade de Los Angeles. Este homem decidiu lutar pela sra. Collin quando ninguém mais a apoiava. Retirou-a do manicômio, conseguiu-lhe o melhor advogado do estado, e sem custos financeiros, além de estar sempre ao seu lado.

O filme não destaca tanto a figura do reverendo, embora ele tenha sido fundamental para que a polícia cumprisse seu papel, para que o demente raptor de Walter Collin fosse preso e para que o chefe corrupto da polícia de Los Angeles fosse exonerado de sua função. O reverendo Briegleb foi o exemplo de um pastor que vivia como um profeta.

Os profetas do Antigo Testamento pregavam a Palavra de Deus assim como o Senhor a transmitia. Uma expressão comum que os caracteriza é: “Assim diz o Senhor”. Porém, além de pregar e representar Deus na terra, eles tinham que influenciar a sociedade de Israel e as nações pagãs ao redor delas. A função profética estava diretamente comprometida com o estabelecimento da justiça de Deus na sociedade humana.

Os profetas pregaram duramente contra o pecado dos reis, como Samuel fez com Saul, quando este usurpou a função sacerdotal, sacrificando no lugar do profeta (1 Sm 13), e também quando não obedeceu ao Senhor, matando todos de Amaleque inclusive seu rei Agague (1 Sm 15). Natã também pregou contra o pecado do rei mais importante da história de Israel, quando lhe revelou a gravidade do seu pecado através da ilustração da ovelha do homem pobre. Os profetas tinham a difícil função de pregar contra o rei de uma nação.

Elias enfrentou os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal. Eliseu além de curar Naamã, não recebendo nenhum pagamento, ressuscitou o filho da sunamita (2 Rs 4). Jonas teve que pregar a cidade de Nínive, capital do império babilônico, e um povo extremamente idólatra e violento. Se bem que ele nem queria ir, mas os planos de Deus jamais podem ser frustrados. Micaías pregou a verdadeira revelação de Deus ao rei Acabe, mesmo sabendo que seria preso por isso (1 Rs 22.27).

Isaías andou três anos despido e descalço dramatizando a conquista assíria do Egito e da Etiópia (Is 20). A mensagem do Senhor era mostrar, através da vida do profeta, como os dois povos seriam dominados: “assim o rei da Assíria levará os presos do Egito e os exilados da Etiópia, tanto moços como velhos, despidos e descalços e com as nádegas descobertas, para vergonha do Egito” (Is 20.4). O profeta ficou três anos com as nádegas descobertas para pregar a vontade de Deus como Ele mesmo quis!

Jeremias, que começou seu ministério profético bem cedo, talvez tenha sido um dos que mais sofreu para pregar a mensagem de Deus a Israel. O profeta após ter pregado contra os pecados da nação foi preso pelos príncipes de Jerusalém (Jr 37.15), e lançado em uma cisterna que não possuía água, mas só lama, onde ficou atolado (Jr 38.6). A quem diga que os profetas eram os agentes especiais de Deus na terra, para por as coisas do seu povo em ordem.

No Novo Testamento, o mesmo espírito de ministério caracterizou os apóstolos, missionários e pastores. Não há espaço neste ensaio para falar de Paulo e do seu zelo pela vontade de Deus. Muito menos dos outros apóstolos que, segundo a história da igreja, foram martirizados. O cristianismo sempre se expandiu às custas do sangue dos justos. E se alguém diz: “Mas era Paulo, o apóstolo. Não podemos viver assim!” Observe o modelo bíblico dos diáconos, na vida de Estevão e Felipe.

A igreja do século XXI está infestada pela “busca do prazer”, pela “felicidade fácil e instantânea” e pelos “resultados práticos”. Estes são chamados respectivamente de hedonismo, narcisismo e pragmatismo. Ninguém mais quer pregar como profeta, viver como profeta. Alguns questionam: “Será necessário ser um mártir na pós-modernidade para pregar o evangelho do Senhor Jesus Cristo, rejeitando as seduções do mercado e do prazer?” E você, o que pensa? Quer ser um profeta como o reverendo Briegleb?